semelhantes diferenças... ou complexas simplicidades.... - #dd22
- du
- 21 de jul.
- 7 min de leitura
Atualizado: 13 de ago.
nem tudo que é simples é fácil, nem complexo é sinônimo de difícil...
essas afirmações parecem claras e são, mas então porque recorrentemente nos pegamos tendo a compreensão errada, associando o fácil ao simples e o difícil ao complexo???
simples, não nos debruçamos de forma real e honesta sobre assuntos que nos parecem demasiados triviais e corriqueiros...
então este será um momento dedicado a este mergulho... uma reflexão sobre as nuances entre simplicidade e facilidade, complexidade e dificuldade, e como essas distinções moldam nossa percepção do mundo e nossas relações com os outros.....
como diria albert einstein: "tudo deve ser feito da forma mais simples possível, mas não mais simples que isso"..... uma lembrança de que a simplicidade tem seu valor e seu limite.....
♦ desvendando o simples ♦
o simples é tudo aquilo que não demanda muitas etapas, muitas ferramentas ou muitas habilidades, o que pode, a primeira vista, até se parecer com algo fácil, porém um não se traduz no outro, assim, tão facilmente na realidade...
pensemos num exemplo, contar de zero a um milhão em voz alta.... algo simples de se realizar, é bem provável que você já saiba a ordem dos números inteiros ou reais se está lendo este ensaio, mas com certeza teremos muita facilidade de levantar algumas dificuldades que podem atrapalhar tornar este feito realizado....
o filósofo henry david thoreau nos lembra: "nossa vida é desperdiçada com detalhes... simplifique, simplifique"..... mas essa simplificação, paradoxalmente, pode exigir um esforço considerável.....
a simplicidade aparece em diversas manifestações culturais como um valor a ser buscado. na arquitetura minimalista de tadao ando, nas composições musicais de erik satie, na poesia concisa de paulo leminski quando escreve "don't worry / be happy / que o resto / é bobagem"..... todos buscam a essência, o mínimo necessário, mas essa busca é frequentemente resultado de um longo e árduo processo.....
o cineasta ingmar bergman certa vez afirmou: "a simplicidade é a sofisticação final"..... uma frase que ecoa o pensamento de leonardo da vinci séculos antes, sugerindo que chegar ao simples pode ser o ápice de um complexo caminho de aprendizado e depuração.....
♦ a natureza do complexo ♦
exatamente em oposição ao simples, algo é complexo é tudo aquilo que demanda muitas etapas, quase sempre diferentes, ou aquilo que necessita de várias ferramentas ou diversas habilidades combinadas, o que pode nos colocar novamente frente a possibilidade de errar e associá-lo a algo difícil....
mas pense, um renomado chefe de cozinha, não vê dificuldade em preparar várias receitas complexas, que demandem a percepção de diversos detalhes e sutilezas que sequer são notadas por algum leigo em culinária.....
o filósofo edgar morin, em seu trabalho sobre o pensamento complexo, nos ensina que "a complexidade não é uma receita para conhecer o inesperado. mas ela nos torna prudentes, atentos, não nos deixa adormecer na aparente mecânica e na aparente trivialidade das determinações".....
a complexidade está presente em toda parte: na música de bach, com suas fugas intrincadas; nos romances de dostoiévski, com suas múltiplas camadas de significado e personagens profundamente desenvolvidos; nos filmes de christopher nolan, com suas narrativas não-lineares que desafiam nossa percepção do tempo.....
mas para os músicos experientes, para os leitores ávidos, para os cinéfilos dedicados, essa complexidade não representa necessariamente uma dificuldade - pode ser justamente o que os atrai e encanta.....
como observou o antropólogo clifford geertz: "o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu"..... a complexidade de nossas vidas sociais e culturais é parte do que nos define como humanos.....
♦ a relatividade na dificuldade ♦
agora, visto o que é o simples e o complexo, conseguimos nos inclinar a conhecer e apreciar o significados de fácil e difícil...
o primeiro, é aquilo que não demanda grande esforço, por vezes esforço algum, seja esforço físico, mental ou temporal, enquanto o segundo, se torna difícil, por necessitar de um empenho substancial de energia, empenho intelectual ou mesmo um certo prazo...
porém, há nesta dualidade algo que não se encontra entre o simples e o complexo, uma relatividade da percepção e impacto da dificuldade que é pessoal, que é única para cada indivíduo, pois alguns detém mais conhecimento e preparo em determinada área que outro, ou tem mais ferramentas e recursos a sua disposição, ou uma realidade mais favorável que outros, tornando algo que pra alguns é difícil em algo fácil para outros, muitas vezes para poucos...
a filósofa simone de beauvoir levanta a idéia de que "o que é fácil nunca é excelente"..... uma provocação que nos convida a valorizar o esforço e a superação como caminhos para o crescimento..... mas que, apesar de entender, deixa de fora a excelência de quem já está preparada(o) para o desafio, tornando fácil alcançar ser excelente.....
na música "águas de março", tom jobim transforma o cotidiano em poesia quando canta "é pau, é pedra, é o fim do caminho"..... o simples se torna profundo, o cotidiano se torna arte, mas quantos conseguem criar tal beleza a partir do banal? a facilidade ou dificuldade está no olhar, na capacidade, na experiência.....
o neurocientista daniel kahneman, em seu livro "rápido e devagar: duas formas de pensar", explora como nosso cérebro utiliza dois sistemas de pensamento: um rápido, intuitivo e emocional; outro mais lento, deliberativo e lógico. o que é difícil para um sistema pode ser fácil para outro, e vice-versa.....
poderíamos, ainda nos debruçarmos sobre outras dualidades que se confundem a estas, como entre rápido e devagar, excepcional e trivial, procedural e assistemático, mas acredito que você já consegue fazer isto facilmente sozinha(o)...
e, assim mesmo, quem sabe no futuro, algum(ns) destes temas esteja(m) em nosso foco...
♦ empatia nas diferenças ♦
mas enfim, qual o intuito de se empennhar a discutir e entender mais profundamente esses termos???
simples, ao compreender as relações entre o simples e o complexo, entre o fácil e o difícil, e suas relatividades em nossa própria vida e na de outras pessoas, somos convidados a uma jornada mais empática.....
saber que as crianças vêem o mundo com simplicidade, mas são envolvidas em uma complexa jornada de aprendizado e descobertas e que os idosos, apesar da sabedoria acumulada, enfrentam desafios diferentes, como a adaptação às mudanças tecnológicas e culturais, por exemplo, é poder olhar para o outro, para suas dificuldades e facilidades, reconhecendo que o que é um desafio para nós pode ser uma tarefa simples para eles ou vice-versa......
o escritor marcel proust observou que "a verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos"..... essa mudança de perspectiva é essencial para a empatia.....
no filme "divertida mente" da pixar, vemos literalmente como diferentes emoções interpretam e reagem às mesmas situações. o que é simples para a alegria pode ser complexo para o medo; o que é fácil para a raiva pode ser difícil para a tristeza. essa metáfora visual nos ajuda a compreender como nossas próprias percepções são moldadas por nossas experiências e estados emocionais.....
a psicóloga brené brown, em seu trabalho sobre vulnerabilidade e empatia, nos lembra que "a empatia não tem script. ela não é uma habilidade, é uma escolha de vulnerabilidade"..... escolher ver o mundo através dos olhos do outro, reconhecendo que suas percepções de simplicidade, complexidade, facilidade e dificuldade são tão válidas quanto as nossas, mesmo quando diferentes.....
♦ indo além ♦
tudo esse mergulho é uma oportunidade de abraçar a empatia como ferramenta de compreensão e conexão, afinal, todos trilhamos caminhos únicos....
ao acolher as peculiaridades de cada jornada, das fases da vida, das culturas e das experiências, tornamo-nos não apenas mais tolerantes, mas também mais capazes de aprender uns com os outros....
é nessa troca que desvendamos os, talvez novos, significados para o simples e o complexo, para o fácil e o difícil, transcendendo nossos próprios limites....
o poeta fernando pessoa, através de seu heterônimo alberto caeiro, nos ensina que "há bastante metafísica em não pensar em nada"..... às vezes, o que parece simples (não pensar em nada) pode ser profundamente difícil e revelador.....
na música "comida" dos titãs, quando cantam "a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte", expressam como nossas necessidades transcendem o simples e o básico - um terceiro conceito diferente de simples e fácil - , buscando a complexidade que nos torna humanos.....
o filósofo martin heidegger argumentava que "os limites da minha lingüagem significam os limites do meu mundo"..... ao expandirmos nossa compreensão dos conceitos de simplicidade, complexidade, facilidade e dificuldade, expandimos também os limites do nosso mundo e nossa capacidade de conexão com os outros.....
é, portanto, mais do que compreender, é sentir, é vivenciar a realidade do outro, caminhar por um momento em outros sapatos e reconhecer que cada visão é apenas uma peça do vasto quebra-cabeça de cada existência....
é assim que, juntos, construímos pontes entre os mundos que habitamos e enriquecemos nossa compreensão do que é, afinal, a simplicidade e a complexidade, a facilidade e a dificuldade de se viver e de conviver.
como escreveu o poeta mário quintana: "são os passos que fazem os caminhos"..... cada passo em direção à compreensão do outro, por mais simples que pareça, pode ser o início de uma jornada transformadora.....
por hora, se empenhe em tornar aquilo que lhe é caro, cada dia mais fácil para tê-lo ou fazê-lo para si e para outrem apreciando todo o processo...
no mais, até mais!!!
espalhe estas inquietações para outras(os) e até a próxima verdade absoluta!!!!
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quer mergulhar em outras reflexões profundas???
no último ensaio exploramos o silêncio.....
vale a pena conferir!... [leia aqui]
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