pais e filhos..... e expectativas - #dd24
- du
- 4 de ago.
- 6 min de leitura
Atualizado: 13 de ago.
em meio aos desafios diários, os medos parecem ser sentinelas constantes, observando cada passo que damos e tornando uma simples ação numa tarefa hercúlea.....
no entanto, é notável como a vida se torna uma teia complexa de expectativas, inclusive com algumas alimentadas por aqueles que nos cercam, pelos ambientes que freqüentamos e até pelas histórias que nos contam desde a infância....
as expectativas moldam-se desde a mais tenra idade, quando nos prometem um mundo de possibilidades, mas que inevitavelmente trazem consigo uma carga de imposições e ideais a serem alcançados....
os medos, nesse sentido, tornam-se uma resposta natural a essas expectativas, muitas vezes inatingíveis, e nos colocam diante do desafio de enfrentá-las ou nos escondermos em seu sombrio abraço.....
contudo, é importante compreender que nem todas as expectativas são nocivas.....
algumas, quando atuam como bússolas, nos conduzem a um caminho de desenvolvimento e descobertas pessoais.....
a chave reside na capacidade de discernir entre aquelas que nos motivam a crescer e aquelas que nos aprisionam em um ciclo vicioso de medo e insegurança.....
♦ a teia das expectativas familiares: um labirinto de projeções e vulnerabilidades ♦
é curioso perceber como a relação entre pais e filhos é um grande catalisador de expectativas..... e quero, aqui, me concentrar nessas.......
donald winnicott, um renomado psicanalista, dedicou grande parte de sua obra ao estudo da relação entre bebês e suas mães, explorando como essa relação molda a subjetividade infantil.......
ele observou que o bebê, nos primeiros meses de vida, é totalmente dependente da mãe ou do cuidador principal para suas necessidades básicas e para a construção de sua identidade.....
nesse sentido, sua frase "não existe essa coisa de bebê, existe um bebê e alguém cuidando dele" ressalta que essa interdependência inicial, vital para a sobrevivência, carrega consigo as sementes das expectativas que nos acompanharão pela vida.....
e que a criação não precisa ser 'perfeita', mas sim 'suficientemente boa', que é aquela que consegue atender às necessidades do bebê na medida certa, sem ser excessivamente intrusiva ou ausente......
nesse processo, nossos “criadores”, no geral, têm, em suas ações, o desejo que suas “crias” tenham uma vida melhor, sejam pessoas melhores e lidam com a criação segundo suas vivências e suas próprias expectativas, com a nobre motivação de nos verem prosperar.....
e muitas vezes projetam em nós seus próprios sonhos não realizados, seus medos e suas visões de mundo.....
essa motivação é, sem dúvida, nobre, mas saber dosá-la e adaptá-la é fundamental, basicamente por dois motivos:
primeiro, a realidade muda.....
a visão de mundo dos pais, forjada em outro tempo e contexto, pode não se alinhar com a complexidade e fluidez do presente.....
o que era "melhor" para eles, pode não ser para as novas gerações..... e essa desconexão gera atrito, frustração e, muitas vezes, um sentimento de inadequação nos filhos, que se sentem vulneráveis por não corresponderem a um ideal que não é seu.....
segundo, a própria dinâmica da criação.....
as(os) filhas(os) se dividem naquelas(es) que se identificam com pelo menos um dos responsáveis, buscando seguir seus passos e direcionamentos para se tornarem uma versão "atualizada" deles..... e naquelas(es) que não se identificam, antagonizando seus "criadores" e buscando se mostrar capazes de forma autônoma, muitas vezes em oposição completa aos caminhos trilhados por eles.....
como a escritora virginia woolf explorou em "ao farol", as relações familiares são complexas, cheias de correntes subterrâneas de afeto, ressentimento e, sobretudo, expectativas não ditas.....
as projeções desses responsáveis pela nossa criação, conscientemente ou não, acabam por imprimir nas mentes jovens uma série de padrões e anseios.....
e a pressão por atender a essas expectativas, muitas vezes, serve como combustível para o temor de se desapontar no processo, alimentando ainda mais o receio de seguir caminhos divergentes dos decididos, mesmo sendo mais apropriados à própria realidade.....
♦ a pressão de ser e o convite à autenticidade ♦
a pressão aqui reside na dificuldade de ser autêntico..... de expressar quem realmente somos quando há um roteiro pré-escrito para nossa vida..... o medo de não ser "bom o suficiente", de não ser amada(o) ou aceita(o) se não seguirmos o caminho traçado, é uma carga pesada que muitos carregam.....
como a psicóloga brené brown nos ensina, a vulnerabilidade é a coragem de aparecer e ser visto quando não temos controle sobre o resultado..... e é exatamente isso que se exige nessa dinâmica familiar: a coragem de mães, pais, filhas e filhos de se mostrarem imperfeitos, de admitirem que não têm todas as respostas, de se permitirem errar e aprender juntos.....
essa dinâmica necessita de um amadurecimento, de ambas as partes, para que um encontre a autonomia necessária à própria vida e o outro se apresente como apoio autêntico às novas jornadas que podem até seguir os mesmos trilhos, mas com uma bagagem completamente diferente......
é um ato de coragem para os 'crias' trilharem seus próprios caminhos, e um ato de amor vulnerável para os 'criadores' permitirem que isso aconteça, confiando no processo e no amadurecimento.....
você consegue discernir se busca se aproximar ou se distanciar da personalidade dos seus responsáveis??? eles são os exemplos do que você quer ser ou do que você não quer se tornar???
♦ o eco das expectativas na psique: entre o ideal e o real ♦
a frase "os pais e os filhos, a gente não escolhe" é um lembrete da natureza intrínseca dessa relação..... não há contrato, não há escolha prévia..... somos lançados nessa dinâmica com um legado de histórias, traumas e, claro, expectativas..... e é nesse terreno fértil que a pressão floresce: a pressão de amar sem garantias, de educar sem manual, de crescer sem certezas, tudo isso sob o peso do que se espera de nós.
como o filósofo jean-paul sartre diria, "estamos condenados a ser livres"..... e, nessa liberdade, somos também condenados a lidar com as expectativas que nos são impostas e as que nós mesmos criamos.....
as expectativas, especialmente aquelas que vêm de figuras parentais, não são apenas idéias abstratas, elas se inscrevem em nossa psique, moldando nossa autoimagem e nosso senso de valor.....
desde cedo, internalizamos mensagens sobre quem devemos ser, o que devemos alcançar, como devemos nos comportar..... essas mensagens, muitas vezes não ditas, tornam-se um roteiro invisível que tentamos seguir, mesmo que ele nos afaste de nossa própria essência.....
trazendo mais uma vez jung para nossos ensaios, o psicanalista nos falava sobre a "persona", a máscara que usamos para nos apresentar ao mundo, muitas vezes construída para atender às expectativas externas.....
quando essa persona se torna rígida demais, quando nos identificamos excessivamente com ela, perdemos o contato com nosso "self" autêntico, com quem realmente somos.....
a pressão para corresponder ao ideal projetado pelos pais pode levar a uma vida de insatisfação, onde a busca pela aprovação externa substitui a busca pela auto-aceitação.....
essa desconexão entre o ideal e o real é um terreno fértil para a pressão.....
o medo de desapontar, de não ser 'boa(m) o suficiente', de não ser amada(o) ou aceita(o) se não atendermos às expectativas, é uma carga emocional pesada..... e, paradoxalmente, essa busca incessante pela perfeição pode nos paralisar, impedindo-nos de correr riscos, de explorar novos caminhos, de abraçar nossa própria imperfeição.....
como o filósofo alain de botton argumenta em "status anxiety", grande parte de nossa ansiedade deriva da busca por validação externa, por um lugar na hierarquia social..... e, para muitos, essa busca começa no seio familiar, na tentativa de corresponder às expectativas dos pais.....
a pressão de se expor, de mostrar as falhas, de admitir que não se é o 'filha(o) perfeita(o)', é um desafio imenso, mas fundamental para a construção de uma identidade autêntica e resiliente.....
é preciso coragem para desconstruir esses roteiros invisíveis, para questionar as expectativas que nos foram impostas e para traçar nosso próprio caminho.....
e é preciso amor e compreensão, tanto de pais quanto de filhos, para permitir que essa jornada de autodescoberta aconteça, com todas as suas curvas, desvios e, claro, as pressões inerentes ao processo.....
♦ a dança entre o legado e a liberdade: um convite à reflexão sobre as expectativas ♦
a jornada de criadores e suas crias é, em sua essência, uma dança complexa entre o legado que recebemos e a liberdade que buscamos.....
é um palco onde expectativas se encontram com realidades, onde o amor se entrelaça com a pressão, e onde a reflexão sobre o que é esperado de nós se torna crucial para uma conexão mais profunda e autêntica.....
reconhecer que as expectativas, embora muitas vezes bem-intencionadas, podem se tornar prisões invisíveis, é o primeiro passo para desconstruir padrões e abrir espaço para o florescimento individual.....
é preciso coragem para questionar o que nos foi imposto, para abraçar nossa própria imperfeição e para trilhar caminhos que, embora diferentes, nos levem à nossa verdade.....
e para os criadores, o desafio é igualmente grande: a coragem de soltar, de confiar, de permitir que suas crias voem, mesmo que para destinos desconhecidos..... é um ato de amor que transcende o controle e se baseia na fé no potencial do outro, mesmo diante das expectativas sociais e familiares.....
que possamos, então, encontrar a coragem de ser, a sabedoria de compreender e a força para lidar com as expectativas, construindo relações que celebrem a individualidade e a conexão, em um labirinto de afetos que nos torna mais humanas(os).....
no mais, até mais!!!
espalhe estas inquietações para outras(os) e até a próxima verdade absoluta!!!!
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no último ensaio exploramos reflexões sobre o trabalho.....
vale a pena conferir!... [leia aqui]
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