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meus eus e os outros - #ed11

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    du
  • 17 de mai.
  • 7 min de leitura

Atualizado: 26 de ago.


esse ensaio é uma expansão do primeiro post do instagram @venturimdu, mas não pretende ser o fim, como todos nossos outros ensaios, este é combustível para pensarmos e discutirmos um pouco mais, um pouco além e um pouco mais profundamente sobre....




♦ o espelho e as máscaras ♦


então, bem vinda(o) de volta!!!!


a cada dia, sempre que nos olhamos no espelho, somos convidadas(os) a encarar a imagem que ele nos devolve....


no entanto, essa que vemos é apenas um reflexo, uma superfície plana que captura algo momentâneo, a superfície de um certo ângulo, incapaz de revelar a totalidade de quem somos...


ou seja, apenas uma das nossas muitas faces — uma máscara, por assim dizer........


vivemos num teatro onde nos fragmentamos, constantemente usando esses adereços para atender às demandas de nosso meio, da sociedade, dos papéis que escolhemos ou fomos forçadas a desempenhar....


no entanto, até que ponto essas máscaras representam quem somos? e mais, até que ponto conseguimos suportar o peso de tantos "eus" que precisam coabitar em uma só existência???


esses "eus", que carregamos com nós, são múltiplos e fragmentados...


somos profissionais, amigas(os), amantes, filhas(os) e muito mais.......


essas multiplicidades não nos tornam incoerentes, mas, ao contrário, nos constituem enquanto criaturas complexas, cheias de camadas e profundidades que nem sempre compreendemos..


é, justamente, essa pluralidade que nos faz únicas e únicos, nos faz personalidades múltiplas, nos faz coisas inteiras, ainda que sempre divididas entre as expectativas externas e os diálogos internos.....


e, ao longo dessa dança com as máscaras, não é raro que nos percamos...




♦ a filosofia por trás das máscaras ♦


o conceito de máscaras é algo que permeia várias tradições filosóficas. na grécia antiga, os atores utilizavam máscaras para desempenhar diferentes papéis nas tragédias e comédias........


esse mesmo conceito nos serve como metáfora para pensar nossas próprias máscaras sociais...


elas não são apenas disfarces, mas também uma tentativa de comunicar e se comunicar com outra pessoa/realidade.....


usamos as máscaras para sermos vistas(os), aceitas(os), compreendidas(os)...


e, no entanto, essas mesmas máscaras podem nos afastar de quem somos de verdade....


a partir de uma busca incessante por validação, vamos nos moldando e ajustando conforme as expectativas alheias, até o ponto em que a máscara já não mais reflete quem somos, mas quem desejamos que o mundo veja......


como diria carl jung, "a persona é uma complicada relação entre a consciência individual e a sociedade...


uma espécie de máscara destinada, por um lado, a causar uma impressão definida nos outros e, por outro, a ocultar a verdadeira natureza do indivíduo"....


nesse sentido, nossas máscaras são tanto proteção quanto prisão....


nos protegem do julgamento alheio, mas também nos aprisionam em papéis que, muitas vezes, não escolhemos conscientemente....




♦ a filosofia por trás das máscaras ♦


nas redes sociais, essa questão é ainda mais acentuada, as máscaras se tornam mais polidas, editadas, cheias de filtros e ilusões..


passamos a projetar uma versão de nós que nem sempre corresponde à nossa realidade material....


o filtro embeleza, suaviza imperfeições, mas também nos distancia de toda história que a realidade traz consigo, criando uma versão idealizada, inalcançável...


quando tudo é performance, qual parte de nós continua autêntica? e como, nesse cenário, encontrar um espaço de verdade, de auto-aceitação????


como observou o filósofo byung-chul han, vivemos na "sociedade da transparência", onde paradoxalmente quanto mais nos expomos, mais nos escondemos atrás de imagens cuidadosamente construídas....


a hipervisibilidade se torna uma nova forma de invisibilidade....


nossas redes sociais se transformam em palcos onde representamos versões curadas de nós mesmas(os), onde cada foto, cada legenda, cada interação é pensada para comunicar uma narrativa específica....


somos, simultaneamente, atores, diretores e público de nossas próprias performances digitais....




♦ o caminho da auto-aceitação ♦


auto-aceitar-se, porém, é um desafio constante...


não basta conhecer-se, saber das próprias forças e fragilidades...


é necessário, sobretudo, abraçar essas falhas, as partes nossas que não se encaixam nas expectativas....


é reconhecer o desconforto, a fragilidade e, a partir disso, seguir em frente..


o caminho da aceitação não é linear e raramente é fácil, muitas vezes, envolve confrontar quem pensamos ser com quem realmente somos...


e esse encontro pode ser perturbador, porque nos obriga a tirar a máscara e, pela primeira vez, encarar a verdade nua e crua......


como nos provocou simone de beauvoir com seu 'não se nasce mulher, torna-se', poderíamos refletir sobre como as identidades que assumimos são construções sociais, muitas vezes impostas por estruturas opressoras....


não nascemos nós mesmas(os), mas somos constantemente moldadas(os) por expectativas externas, algumas das quais reforçam hierarquias e desigualdades que precisamos questionar....




♦ tradições filosóficas e o encontro consigo ♦


a filosofia budista fala sobre o desapego, a idéia de que devemos nos desprender de nossas projeções e ilusões para alcançarmos a paz interior..


eu diria ir até o papel em branco que sempre fomos, somos e seremos....


esse processo, no entanto, pode ser doloroso, pois exige o abandono dessas máscaras que cultivamos ao longo de anos...


já as tradições gregas, como o estoicismo, pregam a resiliência frente às adversidades, a capacidade de permanecer firme diante do sofrimento e, acima de tudo, de superar a si...


esse desafio de superar-se, talvez, seja o mais difícil de todos, é um exercício contínuo, pois requer que sejamos vulneráveis, que nos aceitemos por completo, como vazios que somos, para, então, transcendermos todas nossas limitações.....


as jornadas de auto-aceitação e superação estão entrelaçadas, e uma não existe sem a outra..


como a imagem que criamos de nós nas redes, por exemplo, ela, de certa forma, não é mais real do que o reflexo no espelho....


ambas são versões incompletas, e talvez, parte de superar a si mesma(o) seja entender que sempre seremos e nos veremos imagens incompletas, sempre estaremos em processo de mascarar a página em branco...


assim, entre máscaras, filtros e camadas, seguimos nossas jornadas.......




♦ o kintsugi do eu ♦


contudo, de vez em quando, nos quebramos e enfrentamos a tarefa de nos remontar, como fragmentos de um vaso que se estilhaçou..


nem sempre sabemos se somos capazes de nos recompor, mas continuamos tentando, porque existe, em algum lugar dentro de nós, a vontade de ser sempre a nossa melhor versão, mesmo que, para isso, tenhamos que abrir mão das ilusões que criamos sobre quem deveríamos ser e nos percebermos, novamente, como páginas em branco cheias de possibilidades...


talvez possamos aprender com a arte japonesa do kintsugi, que restaura cerâmicas quebradas usando ouro para preencher as rachaduras....


ao invés de esconder os danos, essa técnica os celebra, transformando as cicatrizes em parte da beleza do objeto....


da mesma forma, nossos cacos, nossas falhas, nossas inconsistências, cicatrizes, estrias, celulites, rugas e etc. não são imperfeições a serem escondidas, mas marcas que contam nossa história, que revelam nossa humanidade....


talvez a verdadeira beleza não esteja na perfeição das máscaras que usamos, mas nas rachaduras que revelam quem realmente somos....




♦ o eterno recomeço ♦


é nesse ponto que surge a necessidade de recomeçar....


como sísifo, condenado a eternamente empurrar sua pedra montanha acima apenas para vê-la rolar novamente até o sopé, também nós nos encontramos num ciclo constante de construção e desconstrução de nós mesmas(os)....


mas, diferente do que pode parecer, não há absurdo nessa repetição — como nos ensina albert camus, é justamente nesse eterno recomeçar que podemos encontrar sentido e, paradoxalmente, liberdade....


pois cada vez que a pedra rola montanha abaixo, temos a oportunidade de escolher empurrá-la novamente, de forma consciente, transformando o que seria punição em ato de rebeldia e afirmação....


e todos os dias recomeçamos o processo de nos conhecermos, nos aceitarmos e nos superarmos...


assim, ao longo dessa trajetória, entre quedas e levantes, vamos nos aproximando mais de quem realmente somos, tirando, aos poucos, as máscaras que nos escondem de todas as possibilidades.....


seja nos fragmentos de um espelho ou nos filtros das redes, a jornada continua, com um simples objetivo: a busca por nós mesmas(os)....


como diria fernando pessoa, através de seu heterônimo álvaro de campos: "não sou nada. nunca serei nada. não posso querer ser nada. à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"....


talvez seja nesse paradoxo que encontremos nossa verdade mais profunda: no reconhecimento de nossa incompletude e, simultaneamente, de nossa infinita capacidade de sonhar e de nos reinventarmos....




♦ um convite a reflexão ♦


para quem quiser seguir refletindo sobre essas questões, vez ou outra, estarei compartilhando mais pensamentos e diálogos sobre identidade, auto-aceitação e superação no meu perfil do instagram @venturimdu ou talvez, em breve, no canal do youtube @venturimdu, onde esses temas podem ganhar novas camadas em vídeos e conversas mais profundas....


acompanhe, participe e vamos juntas(os) trilhar esse caminho.....



"cair, levantar e seguir,

sempre recomeçar...


mais forte,

mais sábia(o),

mais segura(o),

mais consciente de quem é

e das vulnerabilidades

que nos tornam únicas(os)..."




♦ nos palcos da vida ♦


e você, quais máscaras usa no seu dia a dia? consegue identificar momentos em que se sente mais autêntica(o) e momentos em que a performance social parece dominar???


já teve a experiência de se quebrar e se reconstruir, descobrindo novas facetas de si mesma(o) no processo?????


talvez o verdadeiro desafio não seja eliminar todas as máscaras — afinal, elas também são parte de quem somos e de como navegamos o mundo social — mas desenvolver a consciência de quando estamos usando cada uma, e garantir que, por trás de todas elas, ainda nos reconheçamos....






espalhe estas inquietações para outras(os) e até a próxima verdade absoluta!!!!



compartilhe suas experiências nos comentários...

sua opinião é importante....



quer mergulhar em outras reflexões profundas???


no último texto visitamos um novo olhar sobre o tempo.....


vale a pena conferir!... [leia aqui]


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vamos construir um espaço rico em troca de idéias e reflexões

imagem minimalista de uma pessoa se olhando no espelho, no seu reflexo, no llugar de sua cabeça, um livro aberto com as páginas em branco

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