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o mínimo - #ed13

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  • 2 de jun.
  • 6 min de leitura

Atualizado: 26 de ago.


coincidentemente, ou não, este blog tem lançado mão do formato de ensaios sempre em trilogias, três assuntos que de alguma forma se complementam e se fortalecem ao estarem juntos...

(ainda vou falar sobre o 3 e os outros números)


tivemos a trilogia dos "pais opressores" - família, religião e estado, em seguida a trilogia do tempo - passado, futuro e presente e agora inicio uma trilogia que, por ora, carece de um termo mais coesivo e próprio para nomeá-la, mas a chamarei de trilogia da consciência - minimalismo, essencialismo, slow-living...


trilogia da consciência apenas por falta de termo melhor, ou de satisfação insegura com este nome de batismo escolhido...




♦ a origem ♦


e para o primeiro assunto desta trilogia levanto a seguinte questão: como se expressar com o mínimo de material, de forma, de gesto e etc.????


este foi o mote inicial do minimalismo, um movimento das artes visuais, um estilo que surge entre o fim dos anos 50 e início de 60, em oposição aos excessos do expressionismo abstrato que estava em voga...


"menos é mais", dizia o arquiteto ludwig mies van der rohe, uma das figuras centrais do movimento modernista que influenciou profundamente o minimalismo...


esta frase, aparentemente simples, carrega em si uma revolução no pensamento estético e, posteriormente, existencial...


o minimalismo foi se desdobrando das artes visuais para arquitetura, moda, fotografia, música e outros campos......


e em cada caso, se apropriou de diferentes significados que podem ser atribuídos ao minimalismo para traduzí-lo.....


mas em todos, o ponto de partida é tirar tudo que for possível, sem que se comprometa a qualidade e a função básica do que se produz....


evitando-se desperdícios e consumindo somente o necessário...




♦ além da arte ♦


contudo, não estou interessado em adentrar em cada minúcia da história do estilo e de suas(eus) artistas, mas sim em um desdobramento em específico: quando o movimento transborda as barreiras da arte e passa a se tornar um estilo de vida......


um estilo de baixo consumo, de primor pela qualidade, frente a quantidade, essa última desnecessária em quase todos os momentos e realidades...


um estilo que se caracteriza pela simplicidade e aversão aos excessos de uma sociedade extremamente consumista......


aqui, o minimalismo encontra ecos em filosofias muito mais antigas.....


o estoicismo de sêneca e marco aurélio já nos convidava a viver com menos, a valorizar o que é essencial e a não nos deixarmos escravizar por posses materiais....


"é pobre não quem tem pouco, mas quem deseja muito", já dizia sêneca há quase dois mil anos...


já nas tradições orientais, o zen budismo e o conceito japonês de "wabi-sabi" (a beleza da imperfeição e da impermanência) também dialoga profundamente com o minimalismo contemporâneo......


e não é por acaso que muitas(os) praticantes do minimalismo encontram na meditação e nas práticas contemplativas um caminho complementar.....




♦ o que realmente precisamos??? ♦


no minimalismo como estilo de vida, o objetivo, assim como na arte, é de abrirmos mão de tudo o que não é necessário e de toda a quantidade excedente daquilo que é necessário.....


uma questão que pode ser bem simples, mas também muito complexa, quando somos levadas(os) a pensar no que é realmente necessário.....


o que é necessário para mim, não é o mesmo que para você, na sua realidade, e mais ainda, será que o que achamos necessário realmente assim o é, ou apenas transmite o apego material a um estilo consumista ou acomodado que já estamos acostumadas(os)???


daí vêm os termos como destralhe, desapego, limpeza, esvaziamento e etc......


mas em que o nível de minimalismo, se é que há um nível além do mínimo, que devemos chegar???




♦ quanto é o suficiente??? ♦


vamos fazer um pequeno exercício, precisamos nos vestir, assim está pactuado na sociedade (veja como o mínimo é diferente de uma pessoa para outra, indivíduos em sociedades naturistas não têm esta preocupação).....


mas o quanto precisamos de roupa para estarmos vestidas(os)????


precisamos de um conjunto de roupas íntimas e de um conjunto de roupas que nos cubram.....


exs.: cueca, bermuda e camisa, ou calcinha, sutiã e vestido, ou calcinha calça e camisa, ou cueca, saia e top, ou qualquer outra combinação...


porém, apenas um conjunto destes não é o suficiente, pois as roupas, com o uso, se sujam e precisam ser lavadas e neste momento não podem estar nos vestindo, logo precisamos não apenas de um conjunto, mas mais de um.....


quantos??? dois, sete, trinta, cem, trezentos e sessenta e seis???


o mínimo depende de cada uma(um) fazer a conta de quantos dias demoram entre uma lavagem e outra de roupas..... qual a margem de segurança a mais que precisa para casos excepcionais....


em um caso extremo de minimalismo, poderíamos ter apenas 2 conjuntos, contudo todos os dias precisaríamos lavar o conjunto que não estamos usando, o que gera, nesse caso, um excesso de lavagens necessárias no dia-a-dia...... seria esse excesso de lavagens condizente com a idéia de mínimo???


eu, por exemplo, possuo atualmente 14 camisetas, foi o número que, no meu caso, nas minhas condições atuais, se apresentou como o mínimo que satisfaz minhas necessidades..




♦ o paradoxo do minimalismo contemporâneo ♦


é interessante observar como o minimalismo, nascido como crítica ao consumismo, às vezes é cooptado pelo próprio sistema que critica......


hoje vemos "minimalismos de luxo", onde poucas peças caríssimas substituem muitas peças baratas de qualidade similar, mas sem pertencer a uma marca conhecida.....


a questão que se coloca é: estamos realmente consumindo menos ou apenas consumindo diferente????


o verdadeiro minimalismo não é sobre ter menos só por ter menos, mas é sobre liberdade...... liberdade do excesso, liberdade da pressão social para consumir, liberdade para focar no que realmente importa....


como diria henry david thoreau, que praticava um tipo de minimalismo em sua cabana às margens do lago walden no século XIX: "o preço da qualquer coisa é a quantidade de vida que você troca por ela"......


quando acumulamos coisas, estamos trocando nossa vida (tempo, energia, dinheiro) por elas...




♦ necessário versus essencial ♦


observe que em todo o texto tenho tentado não falar sobre o que é essencial (pois isso será assunto do essencialismo), mas sim sobre o que é necessário...


e sim, você só necessita de um copo, um prato, uma colher, uma faca, um garfo e etc.....


todo o "a mais" só continua sendo o mínimo, se for necessário no seu dia-a-dia.....


mas nestes assuntos, ao contrário das outras trilogias, sinto a necessidade de transbordar de um texto para o outro e, somente após a soma dos três, construir uma consistência com a real importância que sinto necessária.....


então, se sentir que algo está parecendo incompleto, espere até a conclusão dos três textos....




♦ o minimalismo e o planeta ♦


há ainda uma dimensão que não podemos ignorar: a ambiental.....


em um planeta com recursos finitos, o consumo desenfreado não é apenas uma questão pessoal, mas sim coletiva e ética...


cada objeto que compramos tem uma pegada ecológica - matérias-primas extraídas, energia para produção, transporte, embalagem e, eventualmente, descarte....


o minimalismo, ao nos convidar a consumir menos, também nos convida a reduzir nosso impacto no planeta...


como diria a ativista ambiental annie leonard: "não podemos ter um sistema econômico que valoriza o crescimento infinito em um planeta finito"...


o minimalismo, nesse sentido, não é apenas uma escolha estética ou filosófica, mas também política e ecológica....


continuamos o assunto no próximo texto ao tratar do essencialismo...


até lá, pense no que você não precisou no último ano, que está apenas ocupando espaço/tempo em sua casa e sua vida..... e encontre suas verdades...


no mais, até mais!!!




espalhe estas inquietações para outras(os) e até a próxima verdade absoluta!!!!



compartilhe suas experiências nos comentários...

sua opinião é importante....



quer mergulhar em outras reflexões profundas???


no último ensaio exploramos os limites do que é permitido pelos outros e por nós mesmas(os).....


vale a pena conferir!... [leia aqui]


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